sábado, 18 de janeiro de 2020

Editorial: Violência Doméstica e seu impacto nas empresas

Amigos Leitores,

     Hoje vamos falar sobre um assunto delicado, polêmico, porém recorrente  e, por isso, necessário: Violência Doméstica.
Falar sobre esse tema é importantissimo no cenário corporativo atual.
Cada vez mais observamos nos noticiários, rodas de conversa e programas de atualidades que a violência doméstica é crescente. Embora saibamos que ainda tem muito que ser desconstruído no pensamento da sociedade, observamos a mudança como algo positivo, pois a informação está chegando aos lares e cada vez mais mulheres estão buscando ajuda. 

A mulher hoje em dia é mãe de família, muitas vezes é ela a provedora de recursos para sua vida e de seus familiares.

     Por essa razão, ela também está possuindo autonomia para aceitar ou não um relacionamento e uma recusa não pode ser motivação de violência, pois a mulher é também funcionária e o emprego é parte essencial para ela e sua família. Por essa razão, o texto da pesquisa de hoje fala sobre as providências que estão sendo tomadas nas empresas no sentido de trazer mais segurança para que as mulheres falem desse assunto na empresa, em seus lares, com suas amigas e incentiva que elas tomem uma atitude em suas próprias vidas:
"Diante do aumento da violência doméstica no país, empresas se engajam para combater o problema criando programas de acolhimentos para as funcionárias.
De acordo com o 13o anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, lançado em agosto, há um registro de violência doméstica a cada 2 minutos no país.
Só em 2018 foram 263 067 casos de lesão corporal dolosa, aumento de 0,8% em comparação ao ano anterior, e 1 206 assassinatos — alta de 4% no mesmo período. Em 88,8% das mortes, o autor do crime era o companheiro ou o ex-companheiro.

     Denise Neves dos Anjos era uma funcionária exemplar. Gerente de uma loja do Magazine Luiza na cidade de Campinas, no interior de São Paulo, não dava pistas de que vivia um drama pessoal fora dali.
Vítima de violência doméstica, os colegas de trabalho só descobriram que ela era constantemente agredida quando o ciclo de agressão atingiu seu ápice: o feminicídio. Em 2017, aos 37 anos, a profissional foi brutalmente assassinada pelo marido. Situações assim não são isoladas no Brasil.
A morte da trabalhadora gerou um questionamento em Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza: “Por que ninguém da loja reparou que havia um problema ali?” Decidida a evitar que a situação se repetisse, a executiva criou há dois anos um programa de acolhimento para as funcionárias vítimas de violência.

     Sua primeira medida foi disponibilizar um canal telefônico no qual as empregadas pudessem buscar ajuda psicológica e jurídica. Desde a inauguração da linha, 274 mulheres já foram atendidas.
Em 15% dos casos, foi necessário transferi-las para outra unidade por motivos de segurança. E a busca pela ferramenta, segundo a companhia, tem crescido: em 2018 foram 108 atendimentos. Até setembro deste ano, já eram 109 registros (hoje, todos os novos empregados são apresentados oficialmente ao programa durante a integração).
Além da criação de um canal de apoio, outra atitude do Magazine Luiza foi treinar a liderança para identificar evidências de violência doméstica.
“Orientamos os gestores a checar a baixa produtividade, observar se a mulher fica pelos cantos, se ela chora, se não quer fazer amizade”, diz Tarsila Mendonça, analista de integridade do Magazine Luiza e responsável pelo Canal da Mulher.
Segundo ela, foi importante também esclarecer que a agressão não é só física, pode ser psicológica. Isso porque muitas vezes quem acessa a ferramenta não é a vítima — e sim um chefe ou colega que conseguiu identificar o problema.
Cristina Kerr, professora na Fundação Dom Cabral e CEO da CKZ Diversidade, consultoria de diversidade para empresas, ressalta que o principal desafio do RH nesse processo é conscientizar e sensibilizar a organização.
“As pessoas costumam achar que elas não têm nada a ver com isso. Primeiro, é essencial desconstruir aquela crença, que aprendemos desde cedo, de que ‘em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’”, diz a especialista. Se o assunto for um tabu, dificilmente o canal de apoio será utilizado: “As empresas devem fazer campanhas, rodas de conversa e workshops sobre o tema, explicitando que apoiam a causa”, completa Cristina.
Esse papel “comunicador” do RH, de criar espaços de diálogo e de troca de informações, é fundamental para que os funcionários sintam que a preocupação é genuína e tenham coragem de agir.

     Com 80% de mulheres em seu quadro, a Marisa abraçou a questão em março deste ano, depois de receber nove pedidos de socorro de funcionárias que estavam sendo ameaçadas ou agredidas pelos companheiros. Antes de iniciar um programa de combate à violência doméstica, a companhia procurou o Magazine Luiza.
Depois de ouvir os conselhos da própria Luiza Helena Trajano, os executivos da varejista de moda conversaram também com os responsáveis pelo canal para entender qual seria a melhor maneira de estruturar a própria política.

Depois disso, a Marisa ainda aplicou uma pesquisa sobre violência doméstica em todos os empregados para mapear o que pensavam a respeito.

     O resultado do levantamento apontou que o conhecimento era alto entre o público feminino e o masculino: 98% das mulheres e 95% dos homens afirmaram que sabiam do que se tratava a violência doméstica.
Ainda assim, a Marisa detectou que a maioria associava a questão exclusivamente à agressão física. Mas a lei diz que situações de abuso emocional, como desvalorização, xingamento e piadas machistas, também configuram violência.

      O maior desafio do programa, pontua Carolina, é convencer as mulheres a usá-lo. “Elas se sentem envergonhadas e temem o julgamento.
Como muitas têm medo de fazer uma denúncia formal, nossa missão é desmistificar a ideia de que o canal é uma ligação direta com a polícia”, afirma a executiva, que também é líder da comissão de Enfrentamento à Violência Doméstica Contra a Mulher da Marisa.
O grupo, formado por oito mulheres que atuam em diferentes áreas da varejista, como jurídica, RH, marketing e operações, se reú­ne uma vez por mês para discutir casos críticos e preparar materiais e ações sobre o assunto, além disso, responde diretamente ao presidente da companhia, Marcelo Pimentel.
Além de ser positivo para as vítimas, o combate à violência é benéfico para o mundo corporativo, inclusive em aspectos menos óbvios, como atração e retenção de talentos. Pesquisas mostram que gerações como a Z — nascidos a partir dos anos 90 — são mais seletivas quando buscam um emprego.

     Um estudo realizado em 2017 pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com o Instituto Maria da Penha (IMP) no Nordeste, com 10 000 mulheres, mostrou que, naquele ano, as trabalhadoras que declararam sofrer violência por parte dos companheiros faltaram ao trabalho, em média, 18 dias no ano.
Entre elas, 47% relataram perder de um a três dias; 22%, de quatro a sete dias; 20%, de oito a 29 dias; e 12%, 30 dias ou mais. O levantamento estimou que, só por causa do absentismo causado por violência doméstica, a perda para as companhias de capitais nordestinas é de cerca de 64,4 milhões de reais.
Quando uma companhia toma consciência de que o problema também é dela, abre uma janela de oportunidade para essas mulheres, principalmente porque esse problema afeta diretamente na produtividade da empresa, conforme aponta o estudo acima."

     O mais importante é a rede de apoio, a união dos familiares e amigos que vão proporcionar à vítima a segurança necessária pra ela manter sua decisão de ficar afastada do agressor, impedindo que ele continue as pressões e agressões psicológicas (contatos telefônicos, mensagens e contatos por redes sociais). Se você observar algo estranho com alguma amiga ou familiar, ajude! Se aproxime, busque conversar e aconselhe que ela busque ajuda. Violência doméstica é algo sério, não é "se meter" na vida da pessoa e nem indelicadeza, muito pelo contrário, é preocupação e apoio.


Até mais!

Equipe do Blog

Fonte:  Matéria original e completa publicada em 10/12/2019,no portal da Revista Você RH: https://exame.abril.com.br/carreira/saiba-como-estas-empresas-se-engajaram-para-combater-a-violencia-domestica/
Acesso em 18/01/2020.

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